Ele riu apalpando os bolsos do paletó até encontrar o cigarro.
Era mentira. O bar da esquina era imundo e para ele o café fazia parte de um ritual nobre, limpo. Dizia isso para me poupar, estava sempre querendo me poupar.
Na esquina?
Quando comprei as uvas...
Meu irmão. O cabelo loiro, a pele bronzeada de sol, as mãos de estátua. E aquela cor nas pupilas.
Mamãe achava que seus olhos eram cor de violeta.
Cor de violeta?
Foi o que ela disse à tia Débora, meu filho Eduardo tem os olhos cor de violeta.
Ele tirou o paletó. Afrouxou a gravata.
Cor de violeta.
Como é que são olhos cor de violeta?
Eram violetas.
Meu Deus, tinha um canteiro de violetas no jardim de casa... Não eram violetas, Rodolfo?
.
Também não sei, você não esperava amadurecer.
E uma parreira, lembra? Nunca conseguimos um cacho maduro daquela parreira. Até hoje não sei se eram doces. Eram doces?
.
Vagarosamente ele tirou as abotoaduras e foi dobrando a manga da camisa com aquela arte toda especial que tinha de dobrá-la sem fazer rugas, na exata medida do punho. Os braços musculosos de nadador. Os pelos dourados. Fiquei a olhar as abotoaduras que tinham sido do meu pai.
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