É trinta e sete e de florzinha. Vê se não esquece dessa vez, cabeça de galo! Olha que ela já faltou ontem e hoje à escola por não ter sapatos.
A professora até mandou saber por um colega se ela estava doente.
Você recebeu, Jerome?
Tira a mão daí, menina, que você se corta!
E trouxe tudo?
E o remédio, achou?
Menos o sapato da Juju porque me esqueci do número.
No Gesteira não tinha, comprei no Pacheco mesmo: treze e quinhentos!
É preciso pagar a seu Salomão sem falta. Ele já veio ontem cobrando e expliquei que estava atrasado por causa do feriado. Fiz mal?
Assim de cabeça não sei, só fazendo as contas. Espere um pouquinho que já vou ver.
...bela alma, o souza!... Você lembra do José Carlos Fagundes, ó Jerome?
Não, Veva. Quanto é?
Se me lembro! Patife...
Para mim é aquele louro, com cara de alemão que nos seguiu até aqui...
Ah, se tivesse acertado... Resolveria quando eu fosse pela doença e Jerome ficasse com as crianças, teria um fundo para estudo, por na Caixa Econômica e garantiria o futuro dos filhos...
Não tem coisa melhor que o subúrbio para uma boa fresca!
Será? O outro tinha cara de esquisito e não andava assim.
ANOS DEPOIS...
É muito doloroso, dona Veva, é terrível, eu sei, mas a vida não se acaba pela morte do Jerome. É preciso ter coragem!
Que a vida, a senhora sabe, dona Veva, era aquilo mesmo. A questão era ser forte. E ele sempre foi, não foi?
Ele se foi, é o nosso destino, comadre, uma vontade suprema que não podemos opor, e com Deus está. Mas não a deixou sozinha, pense bem. E os filhinhos? E...
E os meus filhos, meu Deus? Estou sozinha para criá-los!!!